Poderíamos imaginar um mundo no qual um sonho da promessa da tecnologia, que perdurou século XX adentro, tivesse se tornado realidade; um mundo que tivesse se livrado das amarras da escassez de tempo e da pressa, que tivesse se emancipado do tempo e o transformado de bem escasso em bem abundante.Os defensores do progresso técnico-econômico quase nunca duvidaram de que a moderna eficiência tecnológica e econômica produziria tal sociedade. Tal convicção perdurou por muito tempo. Em 1964, a revista norte-americana Life-Magazine alertava para um excesso massivo de tempo, iminente na sociedade moderna, que traria consigo problemas psicológicos graves. Em nossas sociedades atuais, a "velocidade da vida aumentou" e, com ela, o estresse, a pressa e a falta de tempo. Ouve-se isso por toda parte – embora nós possamos, por meio da aceleração, ganhar enormes quantidades de tempo em quase todos os campos da vida social com ajuda da tecnologia. Não dispomos de tempo, embora o ganhemos em abundância. Explicar esse imenso paradoxo do mundo moderno e seguir o rastro de sua lógica oculta são os objetivos deste livro.