Romance vencedor do Goncourt, principal prêmio literário da França, O caso Meursault, do jornalista e escritor argelino Kamel Daoud, é lançado no Brasil pela Biblioteca Azul, depois de ter sido aplaudido pela crítica francesa e de ter seus direitos vendidos para mais de 20 países.
O romance tem como ponto de partida um dos maiores clássicos da literatura francesa no século XX, O Estrangeiro, de Albert Camus, cuja trama é reconstruída sob o ponto de vista do homem assassinado por Meursault, o personagem central da obra camusiana. Sem voz nem nome no livro do escritor francês, o árabe morto recupera a identidade na narrativa de Kamel Daoud.
Em um bar em Orã, na Argélia, Haroun, irmão mais novo do assassinado, fala a um universitário parisiense interessado em ouvir o que foi oculto no romance de Camus. O foco da conversa é a cena decisiva de O Estrangeiro, na qual o narrador Meursault, ao se sentir ameaçado por desconhecidos em uma praia deserta, atira em um homem, sob um sol escaldante.
Em O caso Meursault, a vítima ganha o nome de Moussa, um homem simples e cheio de vida, conforme a lembrança de Haroun. O personagem relata sua infância marcada pelo assassinato do irmão e pela busca desesperada da mãe pelo corpo do filho. Mas o autor não se limita a isso e surpreende quando, fazendo bom uso da ficção, retira Moussa, o árabe ignorado, do lugar do injustiçado.
Com prosa irônica e cortante, o escritor faz evocar, na figura de Meursault, o próprio Camus. No momento em que o leitor revisita o narrador de O Estrangeiro ouvindo a voz de seu próprio autor, Kamel Daoud transforma sua ficção em um espaço livre, sem censura, para pensar a questão do colonialismo e os impasses da Argélia pós-independência.